quarta-feira, 14 de julho de 2010

IV Centenário da Morte de Camões

É sem dúvida a cunhagem de moeda uma das formas perenes de assinalar um facto, uma data, uma circunstancia ou um nome que deva ficar a repercutir-se na memória das gerações. Para comemorar o IV Centenário da Morte de Luís de Camões há pois que proceder também à emissão de uma moeda que, pelas suas características e valor facial, atinja a finalidade pretendida.


Ano: 1980 (cunhada em 1982 e lançada em 1983)
Metal: prata 925 º/oo
Acabamento: Flor de Cunho
Diâmetro: 32 mm
Peso: 17 g
Bordo: serrilhado
Eixo: horizontal
Tiragem: 1.000.000
Escultor: José Pedro Roque
Legislação: Decreto-Lei n.º 325/81, de 14 de Dezembro

A/: Apresenta a efígie de Camões, circundada perifericamente na metade superior pela legenda "IV Centenário da Morte de Camões", levando sobre a linha de eixo horizontal, à esquerda, a data "1580" e, à direita, a data "1980".

R/: É constituído pelo escudo das armas nacionais centrado sobre a esfera armilar, ornamentada esta, na sua base, com duas vergônteas de louro e circundada perifericamente na metade superior pela legenda "República Portuguesa" e na inferior, em algarismos, pelo valor facial.

Na sequência da emissão comemorativa de Alexandre Herculano, a INCM sugeriu em Abril de 1979 o estabelecimento de programas regulares de cunhagem de moedas comemorativas, o primeiro dos quais para o biénio 197971980, aproveitando-se a passagem de algumas efemérides dignas de serem homenageadas em metal precioso: 4.º Centenário da Morte de Pedro Nunes (1978), a lançar em 1979, 4.º Centenário da Morte e Luís de Camões, em 1980.

Para esta última previa-se uma espectacular série de moedas, cobrindo todo o espectro monetário possível (2$50, 5$00 e 25$00 de cuproníquel; 250$00 e 500$00 de prata) e uma moeda de ouro com o valor facial de 5 mil escudos, que culminaria a homenagem nacional à figura e à obra deste outro "Português de Ouro", cuja data da morte tinha sido consagrada como Dia de Portugal.

Aprovadas as propostas por despacho de 26 de Maio do Secretário de Estado do Tesouro, António de Almeida, todo este conjunto de iniciativas acabaria por ser adiado, devido a mais uma grande subida das cotações internacionais do ouro e da prata, que impediram a fixação das características e dos valores faciais das moedas a emitir (o preço da prata fina passou de 9$93/g , em Janeiro, para 15$22/g, em Junho, 28$75/g, em Outubro, e 37$75/g, em Dezembro de 1979. No mesmo período, o ouro passava de 364$41/g para 766$00/g.

Regressada a calma aos mercados de metais preciosos, em Maio de 1980 a INCM reformula a sua anterior proposta, agora limitada ao centenário de Camões, sugerindo a emissão de uma colecção de três moedas de prata, de 250, 500 e 1.000 escudos, e de uma moeda de ouro de 10.000 escudos, com características semelhantes às da antiga moeda de 5.000 réis da monarquia (diâmetro 23 mm, peso 8,868 g, toque 916,6 º/oo) o que seria aprovado por despacho de 7 de Junho do então Secretário de Estado do Tesouro, Tavares Moreira.

Para a selecção dos desenhos para estas moedas de prata e de ouro, a INCM decidiu voltar ao sistema do concurso restrito a artistas previamente seleccionados (José Pedro Martins Barata, José Aurélio, Cabral Antunes e José de Moura), tendo sido elaborado um documento-guia das bases a que deviam obedecer os desenhos a entregar até 15 de Outubro, com clara definição das legendas, data e do tipo de figurações de inclusão obrigatória.

Adicionalmente, e pela primeira vez, admitia-se que os desenhos seleccionados pudessem ficar sujeitos às alterações consideradas convenientes para garantir a sua aceitação numismática e permitir uma boa execução técnica, particularmente importante na cunhagem de espécimes numismáticos "proof".

Nos dois projectos aprovados, da autoria do Arq. José Pedro Roque Gameiro Martins Barata, e que seriam depois sujeitos as várias alterações, a figura do homenageado era retratada de forma bem diferente: para a moeda de ouro apresentava-se a efígie de Camões envelhecido e angustiado, austeramente vestido; para as moedas de prata, a figuração representava um busto de Camões sardónico, cortesão, elegante e sedutor.

Destas quatro moedas propostas, só a de 1.000 escudos acabaria por ser cunhada, em 1982 (Decreto-Lei n.º 325/81, de 4 de Dezembro), e lançada em circulação em Setembro de 1983, já depois de terem terminado as celebrações nacionais, perdendo-se assim novamente a oportunidade de criar uma moeda de ouro da República.

Mas nem tudo se perdeu, porque o resultado final foi uma moeda de excepcional composição artística e heráldica, que merece um lugar de relevo na colecção numismática do escudo português. No reverso, orlado junto ao rebordo por uma coroa de louros de grande efeito estético e simbólico, o busto de Camões, cortesão, elegante e sedutor, é representado com grande realismo e riqueza de pormenores; e, no anverso, também orlado por uma bordadura que realça o conjunto, as Armas Nacionais são representadas sem aqueles erros que ao longo dos anos se lhe foi reconhecendo: a esfera armilar tem uma base de apoio, aparecendo carregada pelo escudo de recorte manuelino, bem reduzido e centrado.

Luís de Camões

Luís Vaz de Camões (Lisboa[?], c. 1524 — Lisboa, 10 de Junho de 1580) foi um célebre poeta português, considerado uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente.

Pouco se sabe com certeza sobre sua vida. Aparentemente nasceu em Lisboa, de família da pequena nobreza. Sobre sua infância tudo é conjectura mas, ainda jovem, terá recebido uma sólida educação nos moldes clássicos, dominando o latim e conhecendo a literatura e história antigas e modernas.

Pode ter estudado na Universidade de Coimbra, mas sua passagem pela escola não é documentada. Frequentou a corte de Dom João III, iniciou sua carreira como poeta lírico e se envolveu, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias, além de levar uma vida boémia e turbulenta.

Diz-se que por conta de um amor frustrado se auto exilou na África, alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu bravamente ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista Os Lusíadas.

De volta à pátria, publicou Os Lusíadas e recebeu uma pequena pensão do rei Dom Sebastião pelos serviços prestados à Coroa, mas nos anos finais enfrentou dificuldades para se manter. Logo após a sua morte a sua obra lírica foi reunida na colectânea Rimas, tendo deixado também três obras de teatro cómico.

Enquanto viveu queixou-se várias vezes de alegadas injustiças que sofrera, e da escassa atenção que sua obra recebia, mas pouco depois de falecer sua poesia começou a ser reconhecida como valiosa e de alto padrão estético por vários nomes importantes da literatura europeia, ganhando prestígio sempre crescente entre o público e os conhecedores e influenciando gerações de poetas em vários países.

Camões foi um renovador da língua portuguesa e fixou-lhe um duradouro cânone; tornou-se um dos mais fortes símbolos de identidade para a sua pátria e é uma referência para toda a comunidade lusófona internacional. Hoje a sua fama está solidamente estabelecida e é considerado como um dos grandes vultos literários da tradição ocidental, sendo traduzido para várias línguas e tornando-se objecto de uma vasta quantidade de estudos críticos.

Bibliografia
Diário da República Electrónico - www.dre.pt
INCM - Imprensa Nacional - Casa da Moeda - www incm.pt
TRIGUEIROS, António Miguel, A Grande História do Escudo Português, 2003, Colecções Philae
Wikipédia, a enciclopédia livre - pt.wikipedia.org

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2 comentários:

  1. A emissão destas moedas foi de 200 mil exemplares. Eu tenho este estojo completo. E a informação que nele reside é esta e não de 1 milhão de exemplares

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  2. Os numeros que constam no blog referem-se a emissao autorizadapelo respetivo DL. Como nem a INCM nem o BP disponibilizam a informacao de quantas moedas foram efectivamente cunhadas e recolhidas e muito dificil obter um numero exato, como se comprova consultando diversos autores.
    Mas nao sera pela diminuicaod o numero que a moeda valorizara mais :-)

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