domingo, 19 de setembro de 2010

Beato José de Anchieta


Série: VIII Série dos Descobrimentos Portugueses - A Missionação Cristã
Ano: 1997
Valor facial: 200 escudos
Metal: cuproníquel 75/25
Acabamento: normal
Diâmetro: 36 mm
Peso: 21 g +/- 1,5%
Bordo: serrilhado
Eixo: horizontal
Tiragem: 750.000
Escultor: Eloisa Byrne
Legislação: Decreto-Lei n.º 194/97, de 30 de Julho

A/: apresenta o Escudo Nacional, tendo à direita o mapa da América do Sul e sobre este um índio tupi, a cabana de fundação de São Paulo, um elemento da flora e o Rio de Janeiro como linha de horizonte. Em cercadura, a legenda «REPÚBLICA PORTUGUESA», o valor — «200 ESC» — e a data —«1997».

R/: representa o retrato de José de Anchieta, tendo ao seu lado esquerdo a sigla do lema da Companhia de Jesus: «Ad majorem Dei gloriam.» Em cercadura, a legenda que inclui as datas de nascimento e morte: «1534 — Bt.o JOSÉ DE ANCHIETA — 1597 — APÓSTOLO DO BRASIL».

Beato José de Anchieta, SJ (San Cristóbal de La Laguna, 19 de Março de 1534 — Iriritiba, 9 de Junho de 1597) foi um padre jesuíta espanhol, um dos fundadores de São Paulo e declarado beato pelo papa João Paulo II. É cognominado de Apóstolo do Brasil.

Nascido na ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, era filho de Juán López de Anchieta, um revolucionário que tomou parte na revolta dos Comuneros contra o Imperador Carlos V na Espanha e um grande devoto da Virgem Maria. Descendia da nobre família basca Anchieta (Antxeta). Sua mãe chamava-se Mência Dias de Clavijo e Larena, natural das Ilhas Canárias, filha de judeus cristãos-novos. O avô materno, Sebastião de Larena, era um judeu convertido do Reino de Castela. Dos doze irmãos, além dele abraçaram o sacerdócio Pedro Núñez e Melchior.

Anchieta viveu com a família até aos quatorze anos de idade, quando se mudou para Coimbra, em Portugal, onde foi estudar Filosofia no Colégio das Artes, anexo à Universidade de Coimbra. A ascendência judaica foi determinante para que o enviassem para estudar em Portugal, uma vez que na Espanha, à época, a Inquisição era mais rigorosa. Ingressou na Companhia de Jesus em 1551 como irmão.

Tendo o padre Manuel da Nóbrega, Provincial dos Jesuítas no Brasil, solicitado mais braços para a actividade de evangelização do Brasil (mesmo os fracos de engenho e os doentes do corpo), o Provincial da Ordem, Simão Rodrigues, indicou, entre outros, José de Anchieta.

Anchieta, que padecia de "espinhela caída", chegou ao Brasil em 13 de Junho de 1553, com menos de 20 anos de idade, com outros padres como o basco João de Azpilcueta Navarro. Noviço, veio na armada de Duarte Góis e só mais tarde conheceria Manuel da Nóbrega, de quem se tornaria particular amigo.

Nóbrega deu-lhe a incumbência de continuar a construção do Colégio e foi a partir deste que Anchieta abriu os caminhos do sertão, aprendendo a língua tupi e compondo a primeira gramática desta que, na América Portuguesa, seria chamada de "língua geral".

No seguimento da sua ação missionária, participou da fundação, no planalto de Piratininga, do Colégio de São Paulo, do qual foi regente, embrião da cidade de São Paulo, junto com outros padres da Companhia, em 25 de janeiro de 1554. Esta povoação contava, no primeiro ano da sua existência com 130 pessoas, das quais 36 haviam recebido o batismo.

O religioso cuidava não apenas de educar e catequizar os indígenas, como também de defendê-los dos abusos dos colonizadores portugueses que queriam não raro escravizá-los e tomar-lhes as mulheres e filhos. Esteve em Itanhaém e Peruíbe, no litoral sul de São Paulo, na quaresma que antecedeu a sua ida à aldeia de Iperoig, juntamente com o padre Manuel da Nóbrega, em missão de preparo para o Armistício com os Tupinambás de Ubatuba (Armistício de Iperoig).

Nesse período, intermediou as negociações entre os portugueses e os indígenas reunidos na Confederação dos Tamoios, oferecendo-se Anchieta como refém dos Tamoios em Iperoig, enquanto o padre Manuel da Nóbrega retornou a São Vicente juntamente com Cunhambebe (filho) para ultimar as negociações de paz entre os indígenas e os portugueses.

Durante este tempo em que passou entre os gentios compôs o "Poema à Virgem". Segundo uma tradição, teria escrito nas areias da praia e memorizado o poema, e apenas mais tarde, em São Vicente, o teria trasladado para o papel.

Ainda segundo a tradição, foi também durante o cativeiro que Anchieta teria em tese "levitado" entre os indígenas, os quais, imbuídos de grande pavor, pensavam tratar-se de um feiticeiro. Lutou contra os franceses estabelecidos na França Antártica na baía da Guanabara; foi companheiro de Estácio de Sá, a quem assistiu em seus últimos momentos (1567).

Em 1566 foi enviado à Capitania da Bahia com o encargo de informar ao governador Mem de Sá do andamento da guerra contra os franceses, possibilitando o envio de reforços portugueses ao Rio de Janeiro. Por esta época foi ordenado sacerdote aos 32 anos de idade.

Após a expulsão dos franceses da Guanabara, Anchieta e Manuel da Nóbrega instigaram o Governador-Geral Mem de Sá a prender em 1559 um refugiado huguenote, o alfaiate Jacques Le Balleur, e a condená-lo à morte por professar "heresias protestantes".

Em 1567, Jacques Le Balleur foi preso, e conduzido ao Rio para ser executado, mas o carrasco recusou-se a executá-lo. Diante disso, Anchieta o teria estrangulado com suas próprias mãos. O episódio é contestado como apócrifo pelo maior biógrafo de Anchieta, o padre jesuíta Hélio Abranches Viotti, com base em documentos que, segundo o autor, contradizem a versão.

Investigações históricas, baseadas em documentos da época, revelam que o huguenote não morreu no Brasil; na verdade ele foi conduzido à Bahia e daí mandado a Portugal, onde teve o seu primeiro processo concluído em 1569.

Em um segundo processo na Índia, no ano de 1572, foi finalmente condenado pelo tribunal da Inquisição de Goa. Não houve qualquer participação de Anchieta neste episódio, montado posteriormente pela propaganda antijesuítica.

Dirigiu o Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro por três anos, de 1570 a 1573. Em 1569, fundou a povoação de Iritiba ou Reritiba, actual Anchieta, no Espírito Santo. Em 1577 foi nomeado Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, função que exerceu por dez anos, sendo substituído em 1587 a seu próprio pedido. Retirou-se para Reritiba, mas teve ainda de dirigir o Colégio do Jesuítas em Vitória, no Espírito Santo.

Em 1595 obteve dispensa dessas funções e conseguiu retirar-se definitivamente para Reritiba onde veio a falecer, sendo sepultado em Vitória. Embora a campanha para a sua beatificação tenha sido iniciada na Capitania da Bahia em 1617, só foi beatificado em Junho de 1980 pelo papa João Paulo II. Ao que se compreende, a perseguição do marquês de Pombal aos jesuítas havia impedido, até então, o trâmite do processo iniciado no século XVII.

Anchieta era conhecido, na sua época, como abarebebe que, na língua tupi, significa padre santo voador. A sua disposição em caminhar levava a que percorresse, duas vezes por mês, a trilha litoral entre Iriritiba, e a ilha de Vitória, com pequenas paradas para pregação e repouso nas localidades de Guarapari, Setiba, Ponta da Fruta e Barra do Jucu. Modernamente, esse percurso, com cerca de 105 quilómetros, vem sendo percorrido a pé por turistas e peregrinos, à semelhança do Caminho de Santiago, na Espanha.

Bibliografia
Diário da República Electrónico - www.dre.pt
INCM - Imprensa Nacional - Casa da Moeda - www incm.pt
Wikipédia, a enciclopédia livre - pt.wikipedia.org

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