quarta-feira, 23 de junho de 2010

São Vicente


Ano: 1555
Reinado: D. João III (1521-1557)
Valor: 1.000 réis
Metal: ouro de 22 1/8 quilates – 921,9 º/oo
Diâmetro: 32 mm
Peso: 153 3/5 grãos – 7,6 g
Autores: António e Francisco d'Holanda
Legislação: Lei de 10 de Junho de 1555 e Alvará de 26 de Julho de 1555

A/: IOANES : III : REX: PORTV : ET AL (João II Rei de Portugal e dos Algarves), orlado por cercadura granulada, ao centro o escudo real coroado prolongando-se até a borda superior.

R/: ZELATOR FIDEI: VSQVEAD MORTEM (Defensor da Fé, Até a Morte), orlado por cercadura granulada. Ao centro, ladeada de estrelas, a figura de S. Vicente, nimbado, de pé e corpo inteiro à direita interrompendo a legenda, envergando dalmática com mangas até ao cotovelo e gola, segurando a palma do martírio e a nau.

Conta a lenda que no ano de 304, Vicente, diácono do bispo de Saragosa foi martirizado e lançado ao mar por ordem de um perfeito romano, de nome Daciano sendo recolhido por alguns cristãos que lhe deram uma sepultura em Valência.

Com a invasão árabe e as contínuas perseguições aos cristãos, colocaram o corpo do santo numa barca e vieram aportar ao antigo Promontório Sacro, ao Cabo de S. Vicente onde edificaram uma ermida para repousaram os restos do mártir.

Chegando ao conhecimento de D. Afonso Henriques a história de S. Vicente, tomou este a iniciativa de mandar buscar o corpo do santo. Na barca com os despojos do mártir, dois corvos poisaram um à proa e outro à popa acompanhando-os durante toda a viagem até Lisboa, onde chegaram em 1176, ficando as relíquias depositadas na Sé.

A veneração dos reis de Portugal ao Santo Padroeiro da cidade de Lisboa, que remonta aos primórdios da Nacionalidade, assume particular expressão nos reinados de D. João II e de D. Manuel I, com a construção da famosa Torre de São Vicente a par de Belém e no reinado de D. João III, com a homenagem da figuração da sua imagem em moeda de ouro, valiosa representação iconográfica do Santo.

D. João III queria levar a imagem dessa figura de rara envergadura espiritual a todos os pontos do Império de Portugal e então escolheu a moeda em ouro como meio de propaganda. Como homenagem do poder real ao Padroeiro de Lisboa é inegável o seu valor numismático e religioso, homenagem bem vincada em terras do Brasil e África. Tais moedas, em ouro, foram conhecidas por "São Vicente" e "Meio São Vicente".

O São Vicente foi uma moeda de ouro mandada cunhar no reinado de D. João III (1521-1557), do valor de 1000 Reais, e que apresentava a particularidade de ter (em oposição às armas nacionais do anverso) a efígie do Santo padroeiro de Lisboa, S. Vicente, em volta do qual se lia um dos epítetos do rei Piedoso: Zelador Fidei usque ad mortem (Zelador da Fé até à morte).

É sem dúvida de todas as moedas de D. João III aquela que melhor traduz o carácter piedoso do rei, que introduziu em Portugal o famoso Tribunal da Inquisição, com o qual alguns relacionaram aquelas moedas.

O Santo era ali representado de pé segurando na mão a palma do martírio e na esquerda a caravela dos corvos, símbolo da cidade de Lisboa. Esses exemplares foram desenhados pelo célebre António de Holanda e seu filho Francisco. Daí a grande beleza que alguns exemplares apresentam.

Esta moeda foi lavrada pela Lei de 10 de Junho de 1555, consubstanciada nos termos do Alvará de 26 de Julho, do mesmo ano, o qual determinou que fossem feitas duas sortes de moedas de ouro, com os seguintes valores nominais – 1.000 reis e 500 réis, respectivamente os valores dados aos São Vicente e meio São Vicente, cunhados em ouro de 21-1/8 quilates e destinados a circular no Brasil. Foram cunhadas em Lisboa (L) e no Porto (P) até 1560, sendo moedas muito apreciadas na circulação internacional, onde gozaram de grande prestígio até ao final do século.

Entravam essas peças 30 em marco, sendo o ouro de 22 ⅛ quilates. Os meios S. Vicente, que corriam por 500 Reais, eram do mesmo toque e metade do peso daqueles, ou sejam 60 em marco e com 76 4/5 grãos, isto é, 3,825 gramas.

O lavramento dessas moedas foi continuado em tempo do rei D. Sebastião com o mesmo toque e peso, apresentando algumas delas a particularidade de mostrarem duas setas ladeando o escudo nacional, em memória da seta do Mártir S. Sebastião, que o Papa Gregório XIII enviara a D. Sebastião.

Este rei mandou acabar com esse cunho para que essa moeda não fosse mais fundida, embora mantivesse a sua circulação. Após o domínio castelhano, D. João IV determinou o recolhimento de São Vicente, pelo Alvará de 26 de Julho de 1642, mandando pagar pelo São Vicente, mil trezentos e oitenta réis. Posteriormente, pela ordem de 14 de Janeiro de 1645, estipulou-lhe o preço de mil e novecentos réis. Já recolhido, mas ainda encontrado em isolada circulação.

Bibliografia
BOTURÃO, Padre Júlio d'Oliveira, “São Vicente o Padroeiro da Cidade de Lisboa”, in Revista Municipal, nºs 114 e 115, 1967, Lisboa
FOLGOSA, José Maria, Dicionário de Numismática
Imagem: www.coinarchives.com
Registo da Casa da Moeda de Lisboa, Livro I., Pag. 15 t.
TRIGUEIROS, António Miguel, “Moedas Portuguesas de Figuração Renascentista” in Revista Moeda, Vol. IX, nº 6, Dezembro de 1984

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1 comentário:

  1. LUCK COIN!! MOEDA DE SORTE!! Esta belpissima moeda de Ouro, a par dos ditames renascentistas que carrega, traduz a Alma aventurosa de Portugal, traduzindo na imagem do padroeiro de Lisboa São Vicente o caráter patente da nacionalidade portuguesa, como esmerados navegantes e descobridores capazes e engenhosos na arte da Navegação!! Grande moeda, de um tipo bem simples mas ainda assim, expressivamente detalhada, na imagem correcta e bela do Santo Mártir São Vicente, que segura a palma de seu martírio e a caravela dos dois corvos, representado levemente de perfil, em corpo inteiro, e com razoável distância dos bordos da moeda! A imagem está bem delineada e o campo periferal da moeda está eqüitativamente distanciado da figura central do cunho, o que facilitou a inscrição das letras grandes com os dizeres importantes a serem destacados, escritos em latim clássico. Esta é sem dúvidas uma moeda da Renascença Portuguesa, o período das grandes navegações e das descobertas de novos continentes pelos países da Europa. Moeda raríssima por sua beleza, a mensagem hagiográfica evidente e sua sutil mas forte composição! Bela, significativa e rara moeda!!

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