quinta-feira, 24 de junho de 2010

Escudo de São Tomé

Ano: 1544/45
Reinado: D. João III (1521-1557)
Valor: 1.000 reais
Metal: ouro de 20 1/2 quilates – 854,153 º/oo
Diâmetro: 32 mm
Peso: 193 1/4 grãos – 9,57 g
Autores: António e Francisco d'Holanda
Legislação: Alvará de 26 de Outubro de 1544

A/: : IOA : III : POR : ET : AL : R (João III Rei de Portugal e dos Algarves) entre cercadura dupla granulada e fina. Ao centro, limitado por cercadura fina, o escudo real coroado, prolongando-se até ao bordo superior.

R/: + : INDIA . S. TI BI . S . CESSIT (S. Tomé a Índia foi-te consagrada) entre cercadura dupla granulada e fina. Ao centro a figura de São Tomé, nimbada, de pé e corpo inteiro à esquerda prolongando-se até ao bordo inferior, portando o esquadro como atributo e em atitude de pregação, ladeada pelas letras S e T

A carta régia de 26 de Outubro de 1544, determinou o fabrico de uma nova moeda, «do ouro que me veio da Índia». Designado por escudo de São Tomé, com a valia de 1000 reais, é, na sua essência, uma verdadeira moeda comemorativa, celebrando o apóstolo das Índias.

Lavrada exclusivamente em Lisboa, com ouro de vinte quilates e meio, com 9,62 g de peso e cerca de 32 mm de diâmetro, perfeitamente proporcional no valor e peso intrínseco ao cruzado - o que explica o seu toque fora do habitual. Teve circulação em Portugal e em todos os seus senhorios, incluindo a Índia, onde chegou - como tantas espécies continentais - em 1545, na armada de D. João de Castro. Foi, contudo, apenas durante a governação de Garcia de Sá (1548-49), que as moedas de ouro de S. Tomé foram cunhadas pela primeira vez em Goa. O seu sucessor, Afonso de Noronha, cunhou moedas de S. Tomé em prata; estas eram também conhecidas como patacões.

Teixeira de Aragão faz referência ao escudo de São Tomé, transcrevendo Gaspar Correia, nas Lendas da Índia: “Tambem nestas naus (armada em que foi D. João de Castro) veo huma moeda noua, que ElRey mandara laurar dos pardáos de ouro que mandara Martim Affonso; a qual moeda eraõ os próprios pardaos batidos como cruzado, de valia de mil réis, com as quinas de um cabo, e da outra banda a fegura de S. Thomé com letras derredor, que diziam India tibi cessit.

Tal como o S. Vicente, este Escudo comemorativo é da autoria de António da Holanda e seu filho Francisco da Holanda. A lei de 2 de Janeiro de 1560, de D. Sebastião, dá-lhe 20 ½ quilates, e o peso de 193 ¼ grãos, o que corresponde aproximadamente a entrarem 24 peças em marco, tendo este o preço de 24$000 reais. É uma moeda original que marca o início do Renascimento Numismático em Portugal.

Esta nova moeda apresenta gravuras que rompem definitivamente com o arcaismo das tradicionais figurações monetárias portuguesas. No reverso, a imagem de São Tomé, de pé e envergando largos panejamentos pregeados, à romana, é tratada com tais cuidados na modelação e proporção dos volumes, que não deixa dúvidas sobre a influência renascentista italiana, maneirista, no seu desenho criador. No anverso mantêm-se o escudo coroado das armas reais, como motivo central, mas agora prolongado até à bordadura superior.

Trata-se de uma moeda de rara beleza e cuidada arquitectura, em ambas as faces, inovadora na disposição relativa das figurações e legendas, harmoniosa e elegante no seu conjunto, concebida de acordo com o ouro indiano dos Descobrimentos. É a primeira moeda de figuração renascentista a ser batida em Portugal.

O ourives Diogo Álvares, abriu os cunhos segundo os desenhos de António de Holanda (ca 1490-1558) e de seu filho Francisco de Holanda (ca 1517-1584), este último considerado como "o mais importante artista da Renascença em Portugal", arquitecto, pintor, desenhador e escritor humanista.

Moeda cunhada em Lisboa, em 1544/45 e no valor de 1000 reais, com o ouro dos pardaus hindus enviados de Goa. No reverso, a figura do Santo Apóstolo das Índias e padroeiro dos arquitectos e pedreiros, e representada em atitude de pregação, portanto um esquadro como atributo.

É, sem dúvida, a obra prima de desenho para moedas dos dois d'Holanda e, no reverso, a nova concepção no posicionamento dos elementos figurativos sugere o espírito criativo e imaginativo de Francisco d'Holanda.

Bibliografia
ARAGÃO, Teixeira de, Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em Nome dos Reis, Regentes e Governadores de Portugal, Tomo III
GOMES, Alberto, Moedas Portuguesas e do Território Português antes da Fundação da Nacionalidade, Associação Numismática de Portugal, 3ª Edição, 2001, pag. 204
SALGADO, Sebastião Rodolfo, SOARES, Anthony X, Portuguese vocables in Asiatic languages, Volume 1, 1880
TRIGUEIROS, António Miguel, “Moedas Portuguesas de Figuração Renascentista” in Revista Moeda, Vol. IX, nº 6, Dezembro de 1984
Imagem retirada da Revista Artes & Leilões, n.º 16, Março/2009, "A Colecção Numismática do Millenium BCP", Javier Sáez Salgado
Biblioteca Nacional Digital, Lei de 2 de Janeiro de 1560, http://purl.pt/14712/2/

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